sábado, 1 de novembro de 2008

Coisas pertinentes a dizer sobre a minha compulsão alimentar

"When you're addicted to drugs, you put the tiger in the cage to recover; when you are addicted to food, you put the tiger in the cage, but take it out three times a day for a walk."

Esse blog aqui é um lugar para eu escrever o que estou sentindo, para eu falar da minha doença e de como estou tentando controlá-la. Assim como eu achei boas coisas pra ler e me identificar, podendo assim "diagnosticar", conhecer melhor e me armar contra a compulsão, imagino que, se eu escrever sobre ela, outras pessoas podem ler e se identificar. Esses dias comecei a listar coisas sobre a minha compulsão, e vou dividi-las nesse post com vocês.


- Minha compulsão alimentar foi diagnosticada por mim mesma, respondendo sim a quase todas aquelas perguntas-sintomas que se encontra por aí. Aquelas que vêm com o aviso, "se você respondeu sim a mais de três ou quatro, procure ajuda psicológica".

- A compulsão se caracteriza por vários sintomas, sendo o mais notável as crises, ou binges, que consistem basicamente em comer tudo o que se vê pela frente, um pouco ou um muito de cada coisa. Quando a coisa que você está comendo está acabando, você já está decidindo o que vai comer a seguir. Quando estou tendo uma crise, eu não consigo pensar em mais nada, me concentrar em mais nada. A vida se resume àquilo.

- Em dias em que não estou tentando controlar a compulsão, não existem refeições. É uma falsa sensação de liberdade, você pode comer qualquer coisa que quiser, a qualquer hora, a quantidade que quiser.

- Entre um binge e outro, não escovo os dentes. Penso, "para quê? Logo vou comer de novo." Parece, também, um desperdício de pasta de dentes, como se eu não merecesse ter os dentes limpos, como se eu não merecesse escovar os dentes porque isso é coisa de pessoas normais, que têm refeições.

- Eu deprecio e tenho nojo do que faço. Me sinto um lixo, uma inútil, uma fraca, uma imprestável, indigna. Me sinto um desperdício de vida, pois não a uso pra nada. Mas não importa o quanto eu odeie o que eu faço, eu faço de novo. Não há explicação. Você levanta, caminha até a cozinha, abre a porta da geladeira. Come, e por isso se odeia. Se odeia, e por isso come.

- A doença faz isso com você. Diante de tantos sentimentos ruins, de tantas decepções, de tanta fraqueza e falta de esperança, de perspectiva, o único, o unicíssimo conforto que resta na face da terra é a comida. Quando você finalmente se rende é que descobre o verdadeiro desespero. O desespero de quando a porção acaba e você descobre que precisa de mais. Às vezes a barriga dói, mas ainda não é o suficiente.

- Quando estou tendo uma crise, não quero ver ninguém. Se alguém me surpreende, tento fingir que estou fazendo outra coisa. Ao ouvir passos, escondo a comida nos bolsos, embaixo das cobertas, em um armário. A espera, enquanto a pessoa inesperada faz o que tem que fazer e sai, é interminável. Nada mais existe, só a comida escondida que você precisa terminar de comer.

- Eu quero combatê-la. É o que mais quero. Antes eu pensava que, se emagrecesse, minha vida poderia seguir em frente. Penso um pouco diferente agora: talvez a minha vida possa seguir adiante quando eu me livrar da compulsão. Ou talvez ainda, tentar forçar a minha vida a seguir adiante ajude a me livrar da compulsão. *

1 comentários:

Anônimo disse...

Li esses dias em um feed, não lembro em qual, uma lista de coisas que ajudam a diminuir a vontade de comer. Um ponto dela era escovar os dentes logo depois de comer porque, a princípio, você ficaria com preguiça de escovar os dentes e não comeria tão logo. Agora li esse teu parágrafo e pensei: quem sabe não ajuda.