terça-feira, 28 de outubro de 2008

O terceiro passo

Queria ter escrito ontem, mas não pude, estava tão cheia de coisas pra fazer, estava preparando uma entrevista que fiz hoje, agora há pouco, para um trabalho que estou fazendo. É uma pesquisa sobre a implantação do Ensino Fundamental de nove anos, e entrevistei a supervisora de uma escola. É para aquela cadeira que tenho quinta à noite, que me faz chegar bem tarde e cansada.

Novidades não tenho muitas. Ando pensando, pensando muito, sobre a vida e todas as coisas contidas nela. Sobre mim. Não gosto dos posts abaixo, queria deletá-los, causam vergonha em mim mesma. Não é uma vergonha de não querer se mostrar, eu não sei dizer que vergonha que é.

A questão é que, desde a semana passada, esses deslizes que eu tive, a cabeça bagunçada que eu tava, isso tudo acabou me trazendo um aprendizado muito importante sobre a compulsão e como combatê-la. Aprendi que é muito fácil manter o controle quando estou me sentindo bem, que eu não estava fazendo esforço nenhum nos primeiros dias, quando meus posts aqui eram felizes e eu dizia que finalmente estava conseguindo controlar a minha doença. Acontece que ela não estava atuando ali, ou pelo menos não com a força total que teve nas duas últimas semanas, quando eu não agüentei e fraquejei.

Aprendi que o esforço de verdade, a força, a luta, começa mesmo é nas horas em que não estou me sentindo bem. A hora em que eu tenho, sim, que resistir, dizer não praquela vozinha, tão citada nos posts abaixo. Ela não é mais forte do que eu, eu sou. Ela está dentro de mim, é parte de mim, eu ainda estou no comando. É assim que vou vencer: lutando nas horas fáceis e difíceis.

O primeiro passo foi reconhecer: tenho a compulsão e quero combatê-la. O segundo passo foi decidir como: criei meu programa de controle e comecei a segui-lo. O terceiro foi perceber as dificuldades dessa luta, mas também a possibilidade de vencer. Me sinto forte agora; não porque me sinto bem ou porque a vida me distrai da compulsão. Me sinto forte porque sei que tenho um problema, quero combatê-lo, já sei que meios usar e já percebi que vou ter que ter força. Ou seja: preciso tirá-la de algum lugar. Assim como você sabe que força precisa aplicar pra pregar um prego na parede, eu percebi a força que preciso aplicar contra a compulsão. Obviamente, cada martelada é uma e você calcula a força na hora de bater. É o que estou fazendo.

Me sinto bem melhor agora, pronta pra prestar atenção em outras coisas, não ficar tão obcecada pensando ohmeudeus no meu problema. Contra o problema vou lutar sempre, mas o resto também vai estar sempre aí precisando da minha atenção. Chega de deixar tudo pra depois com a desculpa de que isso bloqueava minha vida.
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E falando de outras coisas, baixei ontem o disco novo do Snow Patrol, banda que eu adoro. Se chama A Hundred Million Suns e está espetacular. Pra quem gosta de rock, recomendo. Eles são uma ótima banda irlandesa que já tem bastante estrada e vários discos lançados, mas despontou mesmo para o mundo todo entre o fim de 2006 e o início de 2007, com o sucesso estrondoso da música Open Your Eyes.

"Outras coisas" número dois, vi ontem de novo o ser, aquele. Ele tem uma aura de bondade, de beleza (não exterior) que ilumina tudo, esquenta o coração. Puro sentimento bom. Se estou apaixonada? Pouco importa. Se algum dia vou ter coragem de falar com ele? Muito menos. Chega também de ficar questionando o que sinto, reclamando que esperar ele passar não é vida, e tudo o mais. Às vezes é melhor deixar algumas coisas sem explicação. (Originalmente, some things are better left unexplained, retirada de Arquivo X, meu seriado preferido de todos os tempos. Já perceberam como adoro citações de filmes/livros/séries?)

Bom, hora de ir. Preciso almoçar e me lançar novamente a esse cinza que somos obrigados a chamar de dia. O pior é que eu gosto de dias cinzas. Gosto de coisas esquisitas, que poucas pessoas gostam, como Arquivo X e dias acinzentados. Gosto de gostar das coisas que eu gosto, gosto de gostar de mim. E dá-lhe martelar o prego. *

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Relato momentâneo.

Os fatos:
- O post de ontem foi uma última tentativa de lutar. Era todo verdadeiro, com exceção da última frase. Desafiei a voz e ela atacou mais forte. Minutos depois eu desligava o computador - ele podia testemunhar - e ia à cozinha. Num percurso de ida-e-volta interminável. Primeiro meio sanduíche. Depois um inteiro. Uma banana. Um club social. Um pouco do brigadeiro da minha mãe. Sete bolachinhas recheadas. Foram as últimas, as escondi sob o lençol, já começava a adormecer enquanto mastigava a última.
Essa doença é perversa.
- Acordei ainda sob o efeito, toda a minha vida resumida no café da manhã. Um sanduíche de mel com queijo. Três fatias de bolo. Minha mãe: terminou? Não. Mais uma fatia de pão com manteiga, mais meia xícara de café com leite.
- Escovei os dentes, com nojo da digestão que viria a seguir. Queria logo ir dormir, esquecer, mas tinha que ler e tomar banho. Levei uma garrafa d'água, meu corpo pedia. Precisava ler o livro, aquele de que falei, pra faculdade. Li até faltar só um capítulo. A sonolência começando a me vencer.
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Deitada na cama, tento decidir o que vestir depois do banho. Precisa ser algo folgado, para esconder o inchaço que a barriga denuncia, que delata uma noite de pecado. Sinto meus olhos tristes, pesados por dentro, tão fracos que não podem nem chorar. Minha mãe aparece, vai logo tomar banho, depois vais te atrasar para buscar o teu irmão. Tenho tantas coisas pra fazer, me ajuda. E ela me vê ali, derrotada na cama, os olhos moribundos de tanta tristeza. Os dela não podem enxergar. Ela olha a filha e não a enxerga, é ela que precisa de ajuda. É ela, ela, sempre ela. E eu sei que ela é peça importante no quebra-cabeça das minhas enfermidades mentais. Como ela pode não me enxergar?

Mas me vem um momento de lucidez, um momento em que todas as vozes se calam e eu consigo falar. E eu digo que há uma escolha, que precisa ser feita: continuar aqui e me entregar, dormir e não tomar banho, ir buscar meu irmão com os cabelos sujos, encher cada vez mais a barriga de vazios existenciais.

Toda a porção de comida tem um fim, e todas elas juntas só fazem entulhar o ventre do maior vazio de todos, o mais interminável, aquele que não tem fim.

Ou eu posso levantar, lavar os cabelos e fazer por mim o que ninguém mais pode fazer. Apesar de minha mãe, eu olhar para mim e me enxergar. O que eu quero, o que eu preciso. Quando a voz fala, faz troça dessa escolha, a faz parecer ridícula. Mas agora ela está quieta. Eu preciso fazê-la silenciar, e é essa a escolha que torna isso possível. Preciso silenciá-la com os meus gritos. Eu falo sozinha dentro da minha cabeça, nesse momento, mas por quanto tempo?

Enquanto ainda posso, vou me levantar daqui, pegar uma roupa e lavar os cabelos. Comer refeições que têm fim e não sucumbir. Enquanto o silêncio impera dentro de mim e eu me sinto livre para falar. *

domingo, 26 de outubro de 2008

Rumo à Segunda-feira

Dá pra dizer que o fim de semana correu bem, controle-alimentarmente falando, exceto pelo almoço de hoje. Vocês acreditam que tinha lasanha de novo? Pois é. Não foi como na semana passada, que eu me descontrolei totalmente, mas repeti um pedaço, o suficiente pra me sentir mal depois, culpada. Tratei logo de preparar uma xícara de chá verde, pensando que ajudaria a digerir logo aquele pequeno deslize. Na janta só salada.
Não me passei nas calorias, mas sei que não é bom que elas estejam quase todas na mesma refeição. E me chateia também não ter conseguido dizer aquele não ao segundo pedaço.

E a minha mãe, ela não é muito compreensiva no que diz respeito à minha empreitada. Já disse aqui que ela não deu muita bola quando falei que tenho o transtorno do comer compulsivo, que desconfio que ela nem acredita que tal mal exista. Ela deve achar, como acham muitas pessoas, que se trata de falta de força de vontade, de preguiça. Por isso a minha mãe me surpreendeu tanto naquele dia que deixou pra fazer bolo na quinta, pra eu poder comer sexta.

Hoje ela agiu da forma habitual. Antes do almoço se fez de chateada porque tava com vontade de comer salada de batata com maionese mas não ia fazer só pra ela. Eu disse "sinto muito, mas não quero e não devo comer salada de batata com maionese". Depois do almoço, pediu pra eu fazer brigadeiro de panela. Imaginem a cena, eu ali, minha caneca preenchida com culpa e chá verde, misturando leite condensado e nescau, queimando os dedos, quase perdendo o ponto. Não lambi coisa alguma; me retirei da cozinha com o resto de chá verde e de dignidade que eu ainda tinha.
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Na verdade, meu fim de semana foi bem tedioso. Choveu ele inteiro, e só me restou ler esse livro chato, que tenho que ler pra faculdade. Já passei um pouco da metade e quero terminar logo, me livrar do compromisso. Ele nem é tão chato, só tem algumas coisas que não me agradam, coisas que, pra mim, fazem parecer que a autora está tentando se exibir. Coisas que me soam forçadas. Mas o texto é muito bem escrito, e tem momentos muito bons, na minha opinião, eu que sou uma apreciadora do texto bonito.

Além disso, votar, hoje. Voto aqui, a uma quadra e meia de casa. Num minuto que parou de chover eu meti um casaco por cima da camiseta de pijama e fui. Minha candidata perdeu, e é horrível ter a certeza de que se passarão mais quatro anos de ônibus cada vez mais velhos, mais cheios e menos freqüentes nas paradas. De ruas cada vez mais esburacadas e, conseqüentemente, empoçadas nos dias de chuva. De só ver obras de novo daqui a três anos e meio, quando estiverem tentando se eleger mais uma vez.
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Como a minha mãe ou qualquer outra pessoa pode achar que é falta de força de vontade? Essa voz que me cochicha ao ouvido, pelo lado de dentro? Que promete que a solução para esse tédio todo está lá na cozinha, sob diferentes formas e gostos, o conforto que o marasmo me rouba? Não é força de vontade, simplesmente, que se precisa ter para lutar contra essa voz. É uma força sobre-humana, que às vezes me falta. Agora é fácil, é só deitar a cabeça no travesseiro, ir dormir e ter vencido, aos trancos e barrancos, mais um dia. Mas e amanhã? E se ela falar ao meu ouvido o dia inteiro? Às vezes ela cala, e parece tão fácil continuar. Mas às vezes ela fala o dia inteiro, grita, anula o resto do cérebro. Às vezes eu canso de lutar.
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Hoje já acabou, e eu espero que amanhã eu me sinta melhor, mais forte. Que ela não fale tanto. Tenho tantas dores de cabeça, será que não é dos gritos dela? E tem mais uma coisa: não sei com que freqüência vou me pesar. Só me pesei uma vez até agora, quinta retrasada. Tem vezes que faz bem (quando ela mostra o que eu quero ver, claro), mas tem vezes que faz muito mal. E eu ando evitando ao máximo as coisas que podem fazer mal. De mal, já basta essa voz na minha cabeça, que quer um binge antes de dormir. Mas não vai ganhar. *

sábado, 25 de outubro de 2008

Novo layout!

Desde que comecei o blog, não consegui me adaptar com nenhum daqueles modelos prontos do blogger. Não os acho feios, acho ótimos, mas eu não conseguia me adaptar, por alguma razão. Antigamente, quando tinha um blog (não diet-related) no blogger.br, eu fazia layouts no photoshop e tal, editava o código, tranqüilamente. Mas aqui, no blogger.com é mais difícil, não entendo aqueles códigos deles. De qualquer maneira, o que fiz foi sair à procura de sites que tivessem layouts prontos pra blogger. Achei vários layouts, tentei colocar, não deu muito certo, enfim.

Acabei achando esse site aqui, que tem muitos layouts. Só que tem uma coisa, não tem como você não meter a mão no código, senão seus widgets vão pro beleléu. Mas achei esse tutorialzinho aqui que explica como salvar widgets. (Leia-se copiar do código que você usa pro que quer vir a usar. Em inglês.) No fim o layout que escolhi não estava totalmente do jeito que queria, tive que fuçar no código, fiquei com essa dor nas costas tremenda. Não é grande coisa de layout; basicamente um fundo, uma imagem de título, cores, uma transparênciazinha. Eu não queria nada demais mesmo.

Falando de dieta, acabei deixando a sexta livre mesmo, fiquei com medo de sair do sistema e prejudicar a próxima semana, que espero passar sem deslizes. Mas me controlei muito mais nessa sexta-feira, comi muito menos do que vinha comendo nos outros sétimos dias.

.momento inspiração
Vejo várias meninas postando fotos de atrizes e cantoras nos blogs para servir de inspiração. Resolvi seguir a idéia, mas vou inovar: um menino. Sempre que eu vejo uma pessoa magra, não precisa ser mulher, eu me sinto mal por estar gorda. O menino (nem tão menino assim...) que estou postanto se chama Beck, é um cantor, compositor e instrumentista talentosíssimo, de quem sou muito fã. E meu, ele é tão magrelinho. Eu gosto de meninos magrelinhos. Na verdade, o Beck é meu tipo de menino. Como diz uma amiga minha, se ele dissesse "vamos", eu ia.


Teoricamente, já é sábado, mas como ainda não fui dormir, pra mim ainda é sexta. Ou seja: amanhã é dia um de novo. Torçam por mim, não quero que aconteça como na semana passada, que perdi o foco. Estava indo tão bem! Agora vou voltar ao pique de antes, podem contar com isso. *

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Bem de novo

Em primeiro lugar, quero agradecer todos os comentários do post debaixo, me dando força e apoio. Muito obrigada, vocês realmente ajudaram a levantar a minha moral! Laura e Márcia, que não deixaram link, vocês têm blog? Adoraria retribuir a visita!

Bem. Apesar dos tropeços, cá estamos em mais um dia 6. Semana três, dia seis. Amanhã, o dia sete. Pensei em talvez não fazê-lo livre, já que tive umas crises de comilança essa semana, mas não decidi ainda. Essa semana está sendo horrível, ando cheia de obrigações, os prazos acabando, mal tenho tempo de respirar. O pior é que a preguiça de fazer os trabalhos não ajuda, porque mesmo se eu decido deixar alguma coisa pra depois, ela continua martelando na minha cabeça, lembrando que ainda precisa ser feita.

Além disso, quase arranjei dois trabalhos. Um, uma tradução (versão, na verdade, dizem =P), que eu já recusei, porque não me julguei capaz de fazer (era um abstract cheio de termos técnicos). Outro, um casal de alunos particulares, com quem estou tentando acertar horários. O pior é que nunca dei aula pra ninguém na vida, não sei se vou conseguir. Isso me deixa super hiper mega nervosa, porque não sei como vou me sair, se eles vão conseguir aprender, se eu vou saber como preparar as aulas. Ai, puro pânico.

Mas enfim, embora eu tenha reclamado da vida o post inteiro, esse era um post com o intuito de dizer que estou melhor, que continuo focada, seguindo em frente, com o pensamento positivo e o olho no futuro, que será melhor dependendo do que eu escolher agora, no presente. Néam? *

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Não queria escrever esse post.

Hoje, segunda-feira, completariam-se três semanas que eu mantia o meu programa de controle do meu transtorno do comer compulsivo. Tenho até vergonha de dizer isso, mas não se completaram três semanas de controle absoluto, pois eu perdi o controle.

Tudo começou ontem, domingo. Como eu já disse, fins de semana são difíceis, e ontem foi um daqueles almoços de domingo difíceis de se resistir. A comida era lasanha de presunto e queijo com molho de tomate. Eu já sabia desde sexta-feira que esse seria o almoço de domingo, mas estava decidida a me controlar e a comer só um pedaço. Acho que o que pesou nem foi tanto a comida, mas a família reunida em volta da mesa. Senti que, se não comesse a mesma quantidade que as outras pessoas, não estaria participando, não estaria compartilhando aquele momento de união. Bobagem, claro, mas naquela hora pesou. Em vez de um pedaço, comi três.

Almoço de domingo terminado, decidi que me controlaria pelo resto do dia. Ou seja: a próxima e última refeição do dia seria a janta, somente salada de alface com tomate, temperada com vinagre e sal. E assim eu fiz, e deitei a cabeça no travesseiro bem tranqüila à noite, achando que o pequeno descontrole do almoço de domingo estava bem resolvido.

Mas não estava, porque, sem nenhum outro motivo aparente, acordei hoje, na segunda, com uma vontade incontrolável de desistir de tudo. Essa doença é incrível. Aparecem uns pensamentos na sua cabeça que você acredita que são mesmo reais. Hoje eu tinha a sensação clara de que me controlar e emagrecer não eram coisas importantes pra mim; que o que eu estava fazendo era um sacrifício maior do que eu era capaz; que a melhor solução para todos os meus problemas era comer tudo o que eu tinha vontade; que a doença não era um problema tão sério, que eu não precisava combatê-la pois ela não me prejudicava tanto assim.

Todos esses pensamentos são falsos! Eu penso exatamente o contrário disso, como eu pude ser vencida por uma doença que está dentro de mim, que me faz acreditar no contrário do que eu realmente acredito? É por isso que essa doença é perigosa; o controle perde-se por completo, não só sobre a comida, mas até sobre os seus pensamentos, suas crenças, suas resoluções. Se eu abrisse o meu blog naquele momento, eu era capaz de não acreditar nas minhas próprias palavras. E era eu mesma, consciente como estou agora. Que maluquice é essa? Como posso controlá-la??

O resultado foi um descontrole total. Abrir a geladeira e provar um pouco (ou um muito) de tudo o que há. Abrir os armários, procurando. Voltar para o quarto, não conseguir sentar cinco minutos e ir procurar mais. E muita culpa, muita vergonha, não querer que ninguém veja que estou comendo de novo. E minha mãe não percebe. Já tentei dizer a ela que isso é um problema, que tenho um problema. Ela não levou a sério. Até hoje não leva. Agora há pouco eu disse a ela que minha barriga estava doendo muito, porque eu tinha comido demais. Sem nenhum comentário, ela virou pro outro lado e continuou vendo televisão.
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Agora me sinto lúcida, no controle de novo. Tenho vontade de acordar amanhã de volta ao normal, com meu programa de controle, deixar o deslize pra trás e seguir em frente. Há uma ou duas horas eu me sentia sem perspectiva, sem futuro. O futuro era a próxima coisa que eu ia atacar na cozinha. Amanhã eu quero me levantar, e quando eu conseguir, eu vou comentar nos blogs das pessoas que estiveram aqui e me deixaram comentários tão gentis. Vou seguir com a minha vida e com a minha luta contra esse transtorno. Vou começar a repensar a possibilidade de procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica, talvez algum remédio que ajude a inibir esses rompantes de insanidade.

Eu não vinha escrever esse post, estava com muita vergonha. Mas resolvi que o depoimento era importante, para quem estiver passando por algo parecido ou para mim mesma; quem sabe numa próxima vez que tudo o que eu realmente penso me parecer falso, eu possa ler isso aqui e acreditar na verdade, e controlar o descontrole. *


Edit: Leônidas, você não deixou seu link pra eu poder entrar no seu blog! Eu adoriaria entrar lá e adicionar nos meus links, porque eu acredito que quanto mais amigos agregados, melhor, tanto pra mim quanto pra eles!

sábado, 18 de outubro de 2008

Como a gente pode esperar entender os outros se não podemos entender nem a nós mesmos?

Aqui estamos novamente em um dia um. É tão impressionante a força que eu sinto agora, nessa tentativa, é totalmente diferente das outras vezes que eu já tentei emagrecer. Ontem foi o dia livre, e eu comi bastante, várias coisas que eu tinha tido vontade durante a semana, mas em pouca quantidade, um pouquinho de casa coisa, por assim dizer. Comi o bolo que a minha mãe fez também, hehe, tava (ainda deve estar, porque não acabou) uma delícia. =9

A gripe parece que não quer mais ir embora. Essa noite tossi muito, estou com a garganta toda dolorida. Estou aproveitando que é fim de semana para tomar de novo aquele xarope que derruba, que é melhor que o comprimido que eu tomei durante a semana, especialmente pra garganta. Pelo menos não me sinto mais fraca, nem tenho dores no corpo. Mas também, como alguém pode melhorar totalmente com essa chuva que não pára há uma semana?
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Esse blog tem sido muito importante pra mim, tem me ajudado muito, especialmente por promover o contato com outras pessoas com histórias parecidas. Tenho lido muitos blogs, comento em alguns, alguns comentam de volta, e esse contato é muito importante. Dá pra sentir que é uma comunidade mesmo, mobilizada, em que umas se preocupam com as outras e passam sempre mensagens de apoio, de confiança, de incentivo. É um clima tão bom, uma energia tão positiva, muito diferente mesmo. Isso é muito legal. A minha idéia, inicialmente, era ter um blog pra escrever, mais pra mim mesma, nunca imaginei que estava entrando num mundo assim, de gente tão solidária.

Mas por essas andanças por blogs, acabei entrando em um que me deixou muito triste. Quero dizer que não tenho a menor intenção de criticar, ofender ou magoar alguém, somente de manifestar a minha tristeza. Ontem acabei lendo o blog de uma menina que tem anorexia e bulimia, uma menina que posta fotos de seus ossos saltados dizendo que está muito triste por ser tão gorda. A meta dela são trinta e poucos quilos, e eu tenho medo que ela não consiga sobreviver até lá, pois ela fica dias e dias sem comer coisa alguma. Gente, isso é muito triste, isso é doença. Eu tenho uma doença também, e eu sei que a pessoa não tem culpa de tê-la. A diferença é que essas meninas amam as suas doenças, se utilizam delas para emagrecerem, num ciclo cada vez mais doentio. Eu não gosto da minha doença, e meu objetivo é combatê-la, o que torna as coisas mais fáceis pra mim. Sei que fiquei muito triste, porque minha vontade era ajudar aquela menina, e eu sei que não há como. Elas pensam que são incompreendidas, e eu, se dissesse alguma coisa, só seria uma a mais a não compreendê-las. =(
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E pra você ver como as pessoas têm cabeças diferentes mesmo... Eu tenho uma amiga muito querida, que até está passando por uma tristeza muito grande agora, que estava conversando comigo e me contou de um casamento em que ela foi. Ela mandou fazer um vestido lindo em uma costureira, mas na hora de usar, acabou optando por outra roupa. Se sentiu mal, porque achou que a clavívula ficava saltada com o vestido novo... Falei pra ela que eu fico tateando pra ver se a minha clavívula tá ficando mais aparente, rimos tanto. Ela é linda, magra como eu quero ser, mas como sempre foi assim, queria ser um pouco mais gordinha.

E já que estamos falando de amigas, uma que se dizia minha amiga roubou minha idéia pra um trabalho e apresentou antes de mim. E ainda teve a coragem de dizer, quando acusada, que também é capaz de ter idéias e que não tem culpa que pensou em algo "parecido". Não adianta, cada um tem uma cabeça diferente mesmo. *

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Tomorrow is Friday (the free-day!)

Poisé, mais seis dias bem controladinhos. Hoje é um dia que eu vou pra faculdade de tarde e só volto no final da noite, acabei de chegar. Aí minha mãe disse: "fiz um bolo. deixei pra fazer hoje pra você poder comer amanhã". Não é fofo?

Resolvi me pesar hoje, queria saber a quantas eu andava. Até já coloquei ali o "termômetro". (Valeu Gabi pela dica!) Eu não sei quanto emagreci nessas quase três semanas, mas é que assim: eu considero 86kg meu peso inicial porque é o máximo que já pesei. Tava pesando isso no final do ano passado, quando fiz dieta e cheguei a 82. Só que nesse inverno engordei de novo, e bastante, mas não quis saber quanto, então não me pesei. Daí hoje subi numa balança e deu 79,700kg. Só o que posso dizer é que perdi o tanto que ganhei no inverno e mais dois quilos dos 82 que pesava no início do ano. Ou seja, vitória!

Fiquei muito feliz, serviu de estímulo pra seguir em frente. Tem mais um monte de coisas que eu queria dizer, mas agora vou ter que deixar pra depois, vou ter que ir pra caminha porque estou muito cansada! Até! *

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Ainda enferma...

Dia cinco já. Essa semana tá passando bem rápido. Ontem não me alimentei bem. Não saí do meu programa de controle, mas só comi coisas industrializadas. Pra não dizer que não comi nada natural, comi uma colher de sopa e meia de vagem refogadinha (amo). Mas almocei club social e jantei miojo light (com vagem). Puro conservante. Não sei se meu organismo gostou muito, não...

O que sei é que o meu organismo cansou das secreções da gripe, pois não pára de "expulsá-las". Eca, nem imaginem. Acho que estou um pouco melhor que ontem, mas também, ontem eu tava péssima. Passei o dia na faculdade (por isso a má alimentação) porque tinha que fazer trabalhos, e ainda morrendo de gripe daquele jeito. Agora tô mais disposta, mas com um certo enjôo por causa das secreções. Só queria ficar melhor, buá!

O pior é que não posso nem faltar, tenho um trabalho pra apresentar hoje. Coisa mais chata. Pelo menos vou almoçar em casa e, logo, comida decente. *

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Semana dois, dia três

Hoje faz duas semanas. Chegar na segunda-feira sempre é uma pequena vitória, pois como eu já disse, o fim-de-semana sempre é difícil. No domingo falei que tinha "medo" que meu pai quisesse nos levar para almoçar fora - ele não levou. Alívio...

Hoje não tive aula, então aproveitei a folga pra ir no cinema ver Ensaio Sobre a Cegueira, tava doida pra ver. Amei o filme, muito muito bom. Não vou dizer nada além de "assistam!" Antes do filme sofri um pouco, digamos que por uns três minutos, com o cheiro de pipoca no caminho entre a bilheteria e a sala. Lá dentro, ainda bem, sem cheiro. hehe

Depois do filme, minha amiga estava com muita fome e queria comer um Big Mac. Ela me perguntou vinte vezes se eu tinha certeza de que não me importava de ela comer na minha frente, e eu respondi vinte vezes que sim, tinha certeza. Achava que ia me incomodar, mas nem me incomodei. O que me incomodou mesmo foi a Sprite Zero que eu estava tomando pra fazer as vezes de lanche. Por favor me lembrem que eu odeio refrigerante light (tenho sorte de não gostar muito nem do normal) e que eu não devo fazer isso na próxima. Seria melhor ter tomado uma água ou mesmo nada, porque aquele gosto de adoçante, sim, é que é deprimente. Me fez mais mal do que todas as bandejas de McDonald's ao meu redor na praça de alimentação.

Minha amiga passou uns quinze minutos na fila do Mc pra comprar o lanche, e durante esse tempo fiquei lembrando de como eu me sentia mal em pensar em todas as calorias que eu desperdiçava no meu corpo enquanto tantas crianças morriam de fome na África e em tantos outros lugares. Olhava praquela fila imensa e pensava, "até onde isso vai chegar?" Talvez isso tenha me ajudado a não ligar a mínima para o Big Mac e as batatas da minha amiga quando ela chegou; ou talvez eu só estivesse ocupada me enjoando com a Sprite.

Acho que o importante a dizer, acima de tudo, é que resistir ao teste da praça de alimentação (ou mesmo à pipoca) não foi um sofrimento, pois eu finalmente entendi que o sofrimento pior é o que eu passo depois, com a culpa, com a consciência pesada, com as lembranças de todas as vezes que eu tentei em vão. Isso me dá força pra fazer com que dessa vez seja diferente, meus esforços não sejam em vão.

Quanto à gripe, continuo mal. Melhorei daquele mal estar generalizado do domingo, mas continuo sofrendo com o nariz escorrendo e a dor na garganta (que o ar condicionado do shopping ressuscitou). Infelizmente não posso tomar aquele remédio que derruba, que é o melhor pra melhorar logo, a não ser que queira passar o resto da semana na cama e não apresentar trabalho, não entregar trabalho, não nada. Ai, sinceramente, que idéia agradável... *

Minha estratégia

Resolvi dedicar um post a esse processo de controle, emagrecimento, etc. Já falei algumas coisas nos outros posts, mas achei por bem fazer um com tudo o que possa ser relevante sobre a minha história... Eu acho. Em primeiro lugar, eu não era gorda até os 16 anos, que foi quando comecei a engordar, aos poucos. Em 2003, porém, entrei em depressão e descontei tudo na comida, engordando muito rápido em poucos meses. A partir do ano seguinte, comecei a lutar pra perder o que tinha ganho. Fui a uma endocrinologista e a uma nutricionista, que não me ajudaram muito. Também fui a uma psiquiatra pra tratar a depressão (isso em 2005). Ela não considerou meus comentários a respeito de comida muito importantes e me tratou só por depressão. Todo mundo diz que eu deveria ter ido a um psicólogo se queria fazer terapia, que psiquiatras só dão remédios. Realmente, foi só começar a dizer que me sentia melhor que ela me deu alta. E eu com os problemas todos na cabeça, ainda, só abafados pela fluoxetina.

Bom, mas voltando ao presente. Já disse mil vezes mas vou repetir: o que diferencia essa tentativa de todas as outras é que dessa vez não estou fazendo dieta, quer dizer, não somente fazendo dieta. Lendo sites a respeito e blogs, me encaixei nas descrições e assumi, de uma vez por todas, que tenho o transtorno do comer compulsivo. É importante isso, pra saber que não é um problema só seu, mas uma doença que atinge muitas pessoas. E mais importante ainda é saber que existe um jeito de vencê-lo. Controle é a palavra-chave.

Criei um programa de controle do meu transtorno que, por enquanto, enquanto preciso emagrecer, não pode ultrapassar 800kcal diárias. Tenho seis dias assim e um sétimo de folga, sem contagem rígida de calorias ou restrições. O sétimo dia é importante para aliviar a tensão dos outros dias, pois em um momento de desespero eu consigo resistir a alguma coisa pensando em deixar para comê-la no dia de folga (e às vezes, quando ele chega, você nem lembra do que queria ter comido). Além disso, já ouvi dizer que esse dia de folga ajuda o corpo a não "achar que você está perdido em uma ilha deserta, precisando economizar energia".

Há meses não me peso, mas considero meu peso inicial 86kg, que foi o máximo que já pesei. Sei que, no início do semestre passado, estava com 82kg, pois tinha emagrecido entre o final do ano anterior e o início desse. Mas senti nas roupas (e no espelho!) que engordei durante o inverno, só não sei quanto. A balança é algo complicado pra mim; nessas tantas tentativas, teve épocas em que ela me ajudou muito e épocas em que atrapalhou também. Por isso, quero esperar ter uma diferença significativa no meu corpo pra começar a me pesar dessa vez.

A nutricionista que eu fui ver me examinou e tarará e disse que meu peso ideal é 63kg. Minha meta é, porém, 57kg. Quero ficar muito, mas muito magra, porque meus seios são enormes e eu quero saber o tamanho real deles. Como engordei durante a adolescência, nunca soube qual era o tamanho real deles depois de ter parado de crescer. De qualquer forma, 57kg é só uma meta, pois eu vou parar de emagrecer quando me sentir satisfeita, com o corpo, os seios, tudo, não importa o peso, se vai ser mais de 63kg ou menos de 57kg.

Tem horas que pensar sobre isso me dá uma angústia gigante, então eu só penso em outra coisa e passa. Tem horas que ler blogs e sites me ajuda e horas que atrapalha, tem horas que eu preciso esquecer que estou emagrecendo. Afinal, dá uma ansiedade louca de saber logo como você vai ficar, quanto tempo vai demorar. Acredito que o melhor jeito é tentar abstrair. Pensar nisso, se motivar, escrever (tem me feito muito bem), mas também sair e ir viver a vida. É o melhor jeito de passar o tempo. Ficar prestando atenção demais, procurando mudanças, também não ajuda. Fico feliz quando noto que emagreci, mas não fico mais no espelho tentando enxergar minha clavícula. Aliás, hoje mesmo, tava sentada e coloquei a mão no ombro e senti ela mais proeminente. Fiquei muito feliz.

Realmente, há pessoas que não são capazes ou se recusam a entender o quanto a proeminência da clavícula pode fazer uma pessoa feliz... Mas não é pra essas pessoas que eu escrevo; somente para aquelas que ao menos tentam se pôr no lugar dos outros. Afinal, todo mundo tem suas batalhas. Qual é a sua? *

domingo, 12 de outubro de 2008

Tag "mal" pela primeira vez

Mas é fisicamente. Acordei no meio da noite sentindo muita tontura e dor de garganta, fui levantar pra beber uma água e quase caí, enjoei, quase vomitei. Tomei um remédio pra gripe daqueles que derrubam e apaguei pelo resto da noite. Agora, acordei me sentindo como se tivesse tomado uma surra. Até minha digitação tá mais mole... A dor na garganta, pelo menos, deu uma aliviada, tá bem fraquinha.

Se eu tivesse escrito ontem à noite, porém, o "mal" seria psicologicamente. Não sei explicar o que sentia, mas saí do churrasco da minha amiga me sentindo péssima. Embora eu conheça a maioria das pessoas que estavam lá, eles não são meus amigos, são amigos dela. Fiquei me sentindo mal por não ter uma turma grande de amigos, por só ter aqueles poucos-em-quem-eu-confio. À noite, no outro churrasco, o de família, estava um caco. Sentei no sofá com cara de bunda a maior parte do tempo.

Parece que agora que estou combatendo meus problemas com comida, estou enxergando outros problemas que me incomodavam e eu não sabia; a falta de convívio social, de uma vida mais significativa. Essas coisas estão finalmente se mostrando como coisas que me incomodam profundamente, e eu sei que elas também são causadas, direta e indiretamente, pela minha "condição". (adoro isso, como em Memento, "did I tell you about my condition?")

Ou seja, até pelos posts anteriores dá pra perceber que os problemas com comida são os que menos incomodam nesse momento. Parece que eu finalmente achei meu caminho para o controle (espero não perdê-lo). Só que nem tudo são flores. Hoje é dia da criança, meu pai vem trazer presentes pros meus irmãos e eu tenho um certo "medo" que ele nos leve pra almoçar fora. Pra mim é muito difícil controlar qualquer coisa indo comer fora. Meio que não acho justo pagar quinze reais pra comer alface e tomate com alguma bobagenzinha, o que eu poderia tranqüilamente fazer em casa. Sei lá, vamos ver o que acontece. *

sábado, 11 de outubro de 2008

Dia um de novo

Queria ter escrito ontem, queria dizer como me sentia. Era sexta, o dia livre. De manhã, por ter chegado a ele depois de seis dias de dedicação infalível, me sentia gloriosa. Aí fui comer as coisas que tinha planejado comer - quase não conseguia! Será que o meu estômago diminuiu ou qualquer coisa assim? Sei que me senti meio mal, cheia, e nem comi tanto assim.

À noite fui numa festa. Já não tava me sentindo muito bem, aí fui beber e quase vomitei. A festa em si também não tava muito boa, tava meio vazia. Tomei um "toco" sem palavras dum menino lindo (o amigo dele queria a minha amiga e vieram os dois, mas o "meu" me olhou um pouco e saiu fora). Grande coisa. Confesso que fez mal à minha auto-estima e, somando ao mal-estar estomacal, à dor nos pés de estar acordada desde as seis e meia da manhã fazendo coisas sem parar e à banda que tocava, que tinha um repertório bom mas uma vocalista muito ruim, devo dizer que o saldo foi negativo. Saí mais pra me obrigar a sair, porque fico muito na concha, mas pra essa noite que passei, era melhor ter ficado com as minhas cobertinhas...

Mas não tem importância. Na quinta vi ele de novo. Ele me alucina cada vez mais. Dessa vez ele me viu também. É bom que ele comece a perceber que eu existo... Deus, jamais pensei que me meteria numa situação dessas de novo. Mas é impossível não gostar dele. Ai, chega. Melhor nem falar nele mais.

Daqui a pouco vou no churrasco da minha amiga (aquela que não fui dar os parabéns pelo aniversário semana passada), e depois, de noite, tem o churrasco do meu pai. Pretendo me virar para controlar, já que o dia de folga já era, e hoje é o dia um. Acho que não terei maiores problemas, eu nem sou muito de churrasco mesmo... *

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Cravings...

Que eu estou bem mais controlada, isso é verdade. Mas outra verdade é como o sétimo dia (o livre, que é sexta-feira) me ajuda. Nossa, incrivelmente. Hoje acordei achando que era quinta, pensando que graçasadeusamanhãjáésexta, aí vi que não era e deu um certo desânimo. Durante a sexta passada, eu nem aproveitei a liberdade de comer, nem comi tanto quanto costumava comer em um dia qualquer. Ficava pensando "não preciso desse dia, nem quero comer agora". Só que ele não é importante em si mesmo; o dia livre é importante nos outros dias.

Às vezes, a única maneira de aliviar a ansiedade é jogá-la pra sexta-feira. Eu quero isso, quero aquilo mas não, hoje não: sexta. Aí fica mais fácil controlar. Também não vem aquele pensamento desesperador do tipo "quando é que eu vou poder comer uma pizza/doce/batata frita de novo na vida?", pois eu sei quando vou poder: na sexta. Mesmo que eu acabe não comendo. Nem que fique pra outra sexta. Pelo menos eu sei quando vou poder aliviar a vontade de comer alguma coisa, que há um dia na semana em que é permitido.

Os trabalhos da faculdade já estão começando a apertar. Mal o semestre começou e já estamos além da metade! Aos poucos os prazos começam a chegar mais perto e o desespero cresce. Já sei que se aproximam os surtos psicóticos, os dias inteiros vividos dentro do campus e as noites pouco (ou nada) dormidas. Só quero saber como vou fazer, agora, para virar noites inteiras trabalhando sem meu combustível habitual: chocolate. Nossa, chocolate... Acho que vou comer um na sexta-feira! *

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Angústia

Hoje as minhas angústias não estão ligadas a nada que tenha a ver com comida - aliás, devo dizer que minha dieta (na verdade não gosto de chamar de dieta, e sim de controle) já completou uma semana e continuo levando numa boa, sem deslizes. Em todo o caso, tem outra coisa que está me angustiando.

Acho que estou me apaixonando por um cara que eu mal conheço. A bem dizer, nunca falei com ele; só que ele não sai da minha cabeça. Vi ele hoje e fiquei tão atordoada que não sei dizer quanto tempo levou pras minhas pernas pararem de tremer! Nossa, pensei que isso só acontecia com adolescentes. O pior é que não aceito essa situação; devo estar enlouquecendo!

Não sei o que pensar. Tem horas que até acho bom estar sentindo isso; bem ou mal, é um sentimento bom, faz a pessoa achar o dia bonito, a vida feliz. Mas tem horas que dá muita angústia; o cara nem sabe quem eu sou! Que tipo de situação é essa? Quero alguma coisa melhor pra mim do que ficar olhando-o passar!

Oh, vida! *

domingo, 5 de outubro de 2008

Sundays suck

É muito difícil manter qualquer coisa nos fins de semana, porque os meus fins de semana geralmente são um saco. A antisociabilidade (seja lá como for que se escreve), que descobri muito surpresa ser um dos sintomas do comer compulsivo, ataca mesmo nos sábados e domingos. Se me convidam pra sair, geralmente recuso. Acabo ficando em casa, entediada, sem ter o que fazer (ou só tendo coisas chatas pra fazer) e a comida bem ali, prometendo me confortar.

Em todo o caso, consegui segurar nesse fim de semana e continuar me controlando, até porque, se não conseguisse, só teria tornado meu fim de semana pior. Esse foi horrível, mas horrível mesmo, porque foi um daqueles em que eu não fiz absolutamente nada por mim mesma. (Sabe aqueles dias em que tudo o que você faz é pelos outros?) Nisso incluo os três livros que tinha que ler pra essa semana na faculdade. Li dois e meio, mas ainda tenho até terça pra terminar o terceiro. Fora as outras coisas que tinha pra fazer.

Hoje foi pior ainda, com a eleição. Mais uma obrigação imposta pelos outros... hehe
E também era aniversário de uma das minhas melhores amigas e acabei não indo vê-la, como tinha prometido. Não sabia se ela tava em casa, fiquei lendo, acabei dormindo. Acordei me sentindo uma merda.
Percebem como eu sou reclamona? Sou mesmo. Em geral, as coisas nem são tão ruins quanto parecem quando eu reclamo, mas é um costume. A não ser no fim de semana: no fim de semana toda a reclamação é genuína e verdadeira.

Menos uma: dessa vez consegui me controlar direitinho no fim de semana. Apesar dos pesares. *

Juro: último post do dia

Às vezes gosto de ler os sites de "comedores compulsivos anônimos" pra lembrar que não sou a única pessoa que tem problemas com isso. A maioria tem umas soluções muito ligadas à religiosidade, com as quais, pelo menos até a presente data, não concordo. Eu não conseguiria, hoje, como sugerem os doze mandamentos de um site, pedir a Deus que acabe com meus defeitos. Eu não acredito que ele poderia. Acho que ele quer que nós façamos isso.

Como exemplo, vou colar aí aquelas perguntas que tem nos sites pra você ver se você é um comedor compulsivo. Eu sempre respondi sim a quase todas elas, senão todas, mas insistia em pensar que não tinha esse problema, que devia ser algum outro. *


Are You a Compulsive Overeater?

Welcome to Overeaters Anonymous. This series of questions may help you determine if you are a compulsive overeater.

Do you eat when you're not hungry?
Do you go on eating binges for no apparent reason?
Do you have feelings of guilt and remorse after overeating?
Do you give too much time and thought to food?
Do you look forward with pleasure and anticipation to the time when you can eat alone?
Do you plan these secret binges ahead of time?
Do you eat sensibly before others and make up for it alone?
Is your weight affecting the way you live your life?
Have you tried to diet for a week (or longer), only to fall short of your goal?
Do you resent others telling you to "use a little willpower" to stop overeating?
Despite evidence to the contrary, have you continued to assert that you can diet "on your own" whenever you wish?
Do you crave to eat at a definite time, day or night, other than mealtime?
Do you eat to escape from worries or trouble?
Have you ever been treated for obesity or a food-related condition?
Does your eating behavior make you or others unhappy?

Have you answered yes to three or more of these questions? If so, it is probable that you have or are well on your way to having a compulsive overeating problem.

Fonte: http://www.oa.org/

sábado, 4 de outubro de 2008

A hora de explicar

Certo, vou fazer mais sentido agora.

Oi, vim escrever sobre as coisas que me acontecem, que me atormentam, sobre as coisas que quero dizer e não tenho pra quem. Não porque as pessoas ao redor não sejam capazes ou não estejam dispostas a ouvir e a entender, elas estão. Sou eu quem não consegue falar sobre isso. Ainda. Vou começar a tentar aqui.

O isso sobre o qual é tão difícil falar é a doença, da qual falei no post abaixo há alguns minutos. Queria saber de onde ela veio, que é meio obscuro, mas quando ela vem é sempre meio óbvio, ou seja, "aquele ano em que você engordou um monte". E antes você nem era gorda. Nunca foi maaaagra, mas gorda, gorda não.

E aí claro, as tentativas de combater sempre começam com uma tentativa de emagrecer aqueles quilos que vieram do nada. Tentativas frustradas, já que tem um problema maior por trás que você, primeiramente, não consegue ver, e, depois, não quer ver. Até o ponto em que você percebe que já está gorda assim há cinco anos e que não quer mais fazer de conta que não se importa.

Mesmo antes de assumir que tenho o problema, como estou assumindo agora, eu já pesquisava sobre os transtornos, pra ver se achava uma solução mágica para o meu problema, que eu ainda não assumia ser esse... Nessas achei esse site, que não tinha nenhuma solução mágica, mas algumas dicas. Como, por exemplo, criar um programa de controle. Algo pra seguir e, assim, se controlar.

Meu programa consiste de seis dias de uma dieta em que eu mesma decido o que vou comer, previamente, e respeito. O sétimo dia é "livre", pois nos outros seis eu às vezes, pra resistir à alguma coisa, preciso dizer que vou comê-la no sétimo. Devo confessar que isso nunca funcionou por muito tempo. Espero que funcione agora, que eu assumi ter um problema sério e que, desistindo, só o estou prolongando e agravando. Isso vai fazer uma semana na segunda-feira.

E quem eu sou? Bem, só uma recém ex-adolescente que precisa achar meios de crescer e vencer seus problemas. Uma pessoa que adora música e ama inglês (e vai transformá-lo em profissão, só ainda não decidiu qual). Que precisa melhorar, além do peso, um monte de coisas em sua vida. Mas outro dia conto mais, chega por hoje. *

To begin with.

Eu quis vir escrever. Eu quis vir escrever sobre como é fácil e sobre como é difícil.

Acho que o primeiro passo é reconhecer. Pelo menos, pra mim, acho que fez bem. Eu sempre lia os sintomas e me encaixava em todos, mas me recusava a reconhecer. Decidi reconhecer. Eu tenho o transtorno do comer compulsivo, não sei por quê nem até quando. Mas decidi lutar contra. Já decidi isso um milhão de vezes, mas é disso que eu falo: como eu podia lutar contra uma coisa que eu nem reconhecia que estava lá?

Eu tenho esse problema, essa doença, seja o que for. Se eu preciso de ajuda psicológica? Ah, provavelmente. Mas eu não quero. Eu não quero contar as minhas coisas pra ninguém agora. Já tentei uma vez, e a médica não me deu ouvidos. Achou que eu estava deprimida e não deu bola pros meus problemas com comida. Achou que eu tava só descontando minha tristeza. Sei que não devo julgar todos os profissionais por apenas um que não soube me ajudar, mas, como já disse, não quero tentar de novo agora.

Resolvi fazer um lugarzinho pra mim, pra eu dizer essas coisas. Às vezes me faz bem, às vezes não faz. Mas tava querendo escrever sobre isso. Nunca escrevi sobre isso, às vezes escrevia pra mim mesma, mas doía pensar sozinha em tanta coisa ruim.

Pensei que talvez eu pudesse ajudar a mim mesma. Primeiro, assumindo que tenho a doença. Depois, tentando entender de onde ela veio. Eu sei mais ou menos, mas quero pensar um pouco nisso, diferente das outras vezes que já tentei pensar.

Não quero que esse blog seja uma coisa triste. Só quero dizer algumas coisas, quando precisar.
Hoje precisava dizer que assumi que tenho um problema. E que isso está me ajudando a lutar contra ele. Sozinha, é verdade. Mas reconhecendo que fraquejar só vai me fazer mal, embora a fraqueza sempre me prometa que eu vou me fazer bem se desistir.

Acontece que desistir nunca faz bem. *