segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Relato momentâneo.

Os fatos:
- O post de ontem foi uma última tentativa de lutar. Era todo verdadeiro, com exceção da última frase. Desafiei a voz e ela atacou mais forte. Minutos depois eu desligava o computador - ele podia testemunhar - e ia à cozinha. Num percurso de ida-e-volta interminável. Primeiro meio sanduíche. Depois um inteiro. Uma banana. Um club social. Um pouco do brigadeiro da minha mãe. Sete bolachinhas recheadas. Foram as últimas, as escondi sob o lençol, já começava a adormecer enquanto mastigava a última.
Essa doença é perversa.
- Acordei ainda sob o efeito, toda a minha vida resumida no café da manhã. Um sanduíche de mel com queijo. Três fatias de bolo. Minha mãe: terminou? Não. Mais uma fatia de pão com manteiga, mais meia xícara de café com leite.
- Escovei os dentes, com nojo da digestão que viria a seguir. Queria logo ir dormir, esquecer, mas tinha que ler e tomar banho. Levei uma garrafa d'água, meu corpo pedia. Precisava ler o livro, aquele de que falei, pra faculdade. Li até faltar só um capítulo. A sonolência começando a me vencer.
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Deitada na cama, tento decidir o que vestir depois do banho. Precisa ser algo folgado, para esconder o inchaço que a barriga denuncia, que delata uma noite de pecado. Sinto meus olhos tristes, pesados por dentro, tão fracos que não podem nem chorar. Minha mãe aparece, vai logo tomar banho, depois vais te atrasar para buscar o teu irmão. Tenho tantas coisas pra fazer, me ajuda. E ela me vê ali, derrotada na cama, os olhos moribundos de tanta tristeza. Os dela não podem enxergar. Ela olha a filha e não a enxerga, é ela que precisa de ajuda. É ela, ela, sempre ela. E eu sei que ela é peça importante no quebra-cabeça das minhas enfermidades mentais. Como ela pode não me enxergar?

Mas me vem um momento de lucidez, um momento em que todas as vozes se calam e eu consigo falar. E eu digo que há uma escolha, que precisa ser feita: continuar aqui e me entregar, dormir e não tomar banho, ir buscar meu irmão com os cabelos sujos, encher cada vez mais a barriga de vazios existenciais.

Toda a porção de comida tem um fim, e todas elas juntas só fazem entulhar o ventre do maior vazio de todos, o mais interminável, aquele que não tem fim.

Ou eu posso levantar, lavar os cabelos e fazer por mim o que ninguém mais pode fazer. Apesar de minha mãe, eu olhar para mim e me enxergar. O que eu quero, o que eu preciso. Quando a voz fala, faz troça dessa escolha, a faz parecer ridícula. Mas agora ela está quieta. Eu preciso fazê-la silenciar, e é essa a escolha que torna isso possível. Preciso silenciá-la com os meus gritos. Eu falo sozinha dentro da minha cabeça, nesse momento, mas por quanto tempo?

Enquanto ainda posso, vou me levantar daqui, pegar uma roupa e lavar os cabelos. Comer refeições que têm fim e não sucumbir. Enquanto o silêncio impera dentro de mim e eu me sinto livre para falar. *

11 comentários:

Anônimo disse...

Oi Sarah!
É isso ai guria, tem coisas que só a gente pode fazer, levanta o astral, tudo bem que cometeu alguns deslizes, mas só basta você querer recomeçar, você tem tudo para isso! Vai lá, segue em frente, vamos juntas nos animando!!
Boa semana para você!
Bjs

Anônimo disse...

Oi...
puxa. Acho que o importante é não desistir. Tu sabe que eu tô aqui, né? Queria te dar um abraço agora. Na verdade, também tô precisando.
=***

te amodoro

Anônimo disse...

MENINA, NÃO DESISTA, VC NÃO MERECE DESISTIR!!!!!

VAMOS EM FRENTE,S E PRECISAR, DA UM GRITO....

BEIJOCAS!

Fanta Diet disse...

Menina...
essa doença é braba mesmo... compulsão é fogo... sei bem o q é isso, mas a gente dá a volta por cima e supera!
Bj diet!

"Carla em Metamorfose" disse...

a maldita compulsão...comemos sabendo que não podemos....temos total conciencia do que fazemos e mesmo assim fazemos.....

Tente vencer um dia por vez...comigo esta acontecendo....to vencendo como se fosse uma nova luta todo dia, mas sempre com o mesmo inimigo....afffff


Desculpa o desabafo amiga....acho que meu comentário não foi tão otimista, mas foi muito realista....

Gabi disse...

Pois é.... porque será que comida tinha que ser tão bom, né!!!
Mas não esquente a cabeça, levanta a cabeça e bola pra frente!
Bjs

Unknown disse...

Realmente, há hora sque nos entregamos ao desânimo e comer parece ser o único prazer. Não culpe sua mãe. Eu já culpei muito a minha e ainda faço às vezes. No fundo elas são vítimas de tantas coisas, que acabaram fechando os olhos pra gente.

Mas no fim é vc por vc mesma. aqui tens apoio de amigas que te querem bem. Não podemos estar do teu lado, te dar um ombro , pegar na sua mão. Mas podemos orar por ti, torcer por ti e vibrar contigo.

Vc consegue. Não é mais uma vítima. Já deu o primeiro passo. Os seguintes virão, prenda seu foco.


Bjão!


FUIZ...

Anônimo disse...

A compulsão é mesmo uma coisa terrível. Mas o importante é que, apesar de todas as dificuldades, a gente não desiste. É triste quando a gente se dá conta de que as vezes ela é mais forte, eu fico péssima também, mas o jeito é levantar a cabeça e recomeçar!

Quanto a sua mãe, tente não se incomodar tanto, quando eu comecei a procurar médicos e me reeducar a minha também não entendia muito e as vezes mesmo sem perceber acabava "me sabotando", mas hoje ela já está mais tranquila e até me ajuda na RA. Beijo

Gabi disse...

Oi querida!
Tudo bem por aí?
Bjs

"Carla em Metamorfose" disse...

Oi amiga...ta td bem?
Kd vc hj?

bjs

Unknown disse...

Oi amiga, já pensou em procurar alguém que te ouça e possa te orientar nessa sua luta?
De onde você é? Posso ver se conheço alguém.
Vamos amiga, só você pode se ajudar, e procurar ajuda é um sinal de coragem, de luta.
Um beijo grande